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Artigo: Ideal x Real no desenvolvimento de interfaces de usuário

Neste artigo, Letícia Polydoro, gestora de Projetos da Hypervisual, faz uma análise sobre  a importância de implantar projetos de Tecnologia da Informção com objetivos e recursos  que são ao alcance financeiro do cliente.

 

Ideal x Real no desenvolvimento de interfaces de usuário

 

A melhor experiência é aquela que pode ser implementada

 

Letícia Polydoro, gestora de Projetos da Hypervisual
Letícia Polydoro, gestora de Projetos da Hypervisual

Toda atividade profissional tem seus desafios. A área de design de interfaces não poderia ser diferente. Cada projeto novo é um universo de possibilidades: novos mercados, novas plataformas, novos dispositivos, novas tecnologias… enfim, cenários complexos que precisam ser bem avaliados para a construção de um produto digital de sucesso. E justamente por isso é também fascinante. Nós, designers, estamos em um eterno aprendizado que nos motiva a ir sempre além.

 

Já comentei em um artigo anterior que a área da TI (Tecnologia da Informação) possui uma aura de glamour e fascínio. Nossas referências costumam ser produtos disruptivos como já foram o iPhone, Uber, airbnb e tantos outros conhecidos para uso pessoal (B2C). A tentação de criar algo diferente e único é grande. Porém, um volume expressivo de empresas de TI do mercado nacional desenvolve produtos para uso corporativo (B2B) que possuem características próprias e cujos requisitos estão mais ligados à performance, escala e otimizações do que a exuberância e ruptura.

 

Essas empresas de TI conquistaram seu espaço através de uma trajetória que lhes custaram tempo, investimento e dedicação. O reconhecimento de mercado é merecido, mas com isso vem também um legado tecnológico e cultural que precisa ser considerado. Quando somos chamados para projetar novas interfaces para seus produtos digitais, precisamos respeitar essa trajetória, legado e cultura. Temos sim que entender a dor dos usuários, mapear as oportunidades e entregar resultados tangíveis. Mas isso não é o suficiente. Os primeiros usuários que precisamos conquistar são os responsáveis pela execução do nosso projeto. Sem eles não existe resultado. Precisamos imergir na realidade de cada empresa, ver qual é sua cultura, que tecnologias são adotadas, qual o perfil do time de desenvolvimento… enfim, uma série de ingredientes que são essenciais para a construção de um projeto de qualidade.

 

É importante termos sempre a clareza de que um designer não é um artista. Na concepção estrita do termo, o mais adequado seria projetista. Nosso papel é dar soluções factíveis para problemas reais. Se essa solução resultar em um produto inovador, ótimo. Mas isso seria uma consequência e não um objetivo comum a todos os projetos. Farei aqui uma analogia simples: você está sobrecarregado (Problema do usuário) e, para descansar, almeja fazer uma viagem de 30 dias pela Costa Amalfitana (Oportunidade). No entanto, suas economias não permitem isso e você só tem 15 dias de férias a tirar (Recursos disponíveis). Sua prima disponibilizou a casa dela em uma bela praia no litoral próximo a sua cidade (Oportunidade). Qual será a sua escolha? Por mais fabulosa que seja a ideia de fazer a charmosa viagem pela Itália, ela não está ao seu alcance (Análise de Cenários). E pior, se você forçar a barra, poderá perder o emprego e contrair dívidas indesejadas (Análise de Cenários). Em uma breve reflexão, você aceita a oferta de sua prima (Projeto), segue feliz para a beira da praia (Execução) e retorna revigorado (Resultado). Cada uma dessas etapas descritas pode ser desdobrada, mas meu foco neste artigo está em “Recursos disponíveis”.

 

Não raro já ouvi de clientes que me disseram que tinham contratado belos projetos de design que foram engavetados por não serem viáveis tecnicamente. Em uma avaliação mais aprofundada, não foram belos projetos de design. Nesses casos, os profissionais deveriam ter considerado quais recursos técnicos estavam disponíveis para somente então projetar a nova interface de usuário. Também já escutei relatos de conflitos internos onde os desenvolvedores estavam de um lado e os designers de outro. Cada um querendo impor seu ponto de vista e o resultado era nulo.

 

Vale ressaltar que, de forma alguma, defendo que os designers acatem todas as diretrizes dadas pelo cliente sem questionar. Nesse caso, também não estaríamos fazendo um bom trabalho. O que defendo é que designers de interface adquiram algum conhecimento técnico. Não para se tornarem desenvolvedores, mas para que entreguem soluções melhores. Um mesmo problema pode ter mais de uma solução. Muitas vezes, opta-se por um caminho específico de forma aleatória, quando poderia se trazer outras possibilidades que seriam igualmente adequadas para atender aos usuários e também viáveis tecnicamente. A solução complexa de implementar é dada muitas vezes por desconhecimento dos recursos disponíveis, e não por uma necessidade real.

 

Essa lógica ( Problema do usuário > Oportunidades > Recursos disponíveis > Análise de Cenários > Projeto > Execução > Resultado) é, em síntese, o que todo bom projeto de design de interface precisa ter. Insistir em uma solução como a viagem pela costa italiana é como vender sonhos: não vai se concretizar. Lembre-se sempre que a melhor experiência é aquela que pode ser implementada.

 

Artigo da diretora da Hypervisual, Letícia Polydoro.

 

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