A Duratex fechou a fábrica da marca Deca, situada em São Leopoldo, no Vale dos Sinos, demitindo quase 500 pessoas.
Os 480 empregados ficaram sabendo das demissões ao chegarem para trabalhar no começo da manhã desta segunda. Eles foram recepcionados pelo comunicado de que teriam de fazer a rescisão dos contratos. Em nota, a Duratex informou que “não tem como precisar o número exato de desligamentos, porque parte dos colaboradores poderá ser aproveitada em outras operações”.
A unidade tem mais de 40 anos de atividade na cidade e era uma das maiores no setor no Rio Grande do Sul. A medida reforça a condição adversa no mercado de trabalho. A decisão da companhia de capital aberto, que faz parte da holding Itaúsa Investimentos (controladora do Banco Itaú), não era esperada, diz o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Indústrias de Vidros de Porto Alegre e Região, que cobre a base de São Leopoldo, Renato Reus dos Santos. Representantes da entidade sindical foram ao local, na avenida das Indústrias, no bairro Fazenda São Borja.
H havia desconfiança sobre eventual impacto na operação devido à forte redução da produção, mas a sede da companhia negava que poderia ser fechada, diz o secretário-geral. “Depois da reforma trabalhista, perdemos a possibilidade de negociar e fazer um acordo quando ocorre demissão em massa como neste caso. Agora não estão vendendo, fecham e acabou”, resume Santos.
A Duratex divulgou nota sobre o encerramento das atividades alegando que “o fechamento da unidade industrial de louças na cidade de São Leopoldo, é importante para a consolidação industrial e para manter a competitividade no segmento”. A companhia justifica ainda que a unidade foi escolhida porque apresentava queda no uso da capacidade instalada. “O volume de produção será redistribuído entre as outras quatro unidades de louças da Deca em João Pessoa (PB), Cabo de Santo Agostinho (PE), Queimados (RJ) e Jundiaí (SP)”, acrescenta a nota. Sobre a forma como ocorreram as dispensas, a empresa informou que tenta “minimizar ao máximo os efeitos da decisão, realocando pessoas conforme suas experiências e pretensões de carreira”. “Todo o processo está sendo conduzido com respeito, e o suporte necessário aos colaboradores impactados”, assegura, indicando que “os colaboradores poderão contar com uma consultoria especializada para recolocação profissional”.
“Nos preparamos para um Brasil que não veio.” Foi assim que o gerente industrial da Duratex S.A, Eduardo Donizete Carobeli, justificou o fechamento da fábrica de louças. Carobeli deu a declaração em audiência com o prefeito de São Leopoldo Ary Vanazzi, durante a tarde na sede do Executivo. O encontro foi pedido pelo gerente, “para esclarecer os motivos que levaram ao encerramento das atividades e à demissão de aproximadamente 500 funcionários em São Leopoldo”.
O governador do Estado, Eduardo Leite, comentou a desativação durante almoço com jornalistas no Palácio Piratini, apontando os efeitos negativos para a economia gaúcha. Leite disse que precisava ter mais detalhes sobre as razões das desativações e considerou que a recuperação da economia no País está sendo “muito lenta, beirando a estagnação”.
Para o vice-presidente da Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Tecnologia (ACIST-SL), Fernando Ribas, o fechamento da Deca é de extrema preocupação, uma vez que haverá redução de geração de renda afetando centenas de pessoas. “A recuperação desta força produtiva é lenta e irá ter reflexos nas mais diversas áreas devido ao efeito cascata, afetando o desenvolvimento econômico do município”, descreve. Segundo ele, este fato é mais uma demonstração do quanto está demorando a recuperação econômico e do quanto é importante a aprovação da reforma da Previdência, para “virar a página” de um período de pouco crescimento.
A Duratex é uma companhia de capital aberto, com ações na bolsa de valores e cujo controlador é a Itaúsa (Investimentos Itaú S.A), que tem controle também do banco Itaú Unibanco, maior instituição financeira privada do País. Em nota oficial, a prefeitura de São Leopoldo reforçou a surpresa com o fechamento da unidade. Segundo o município, ações para ampliação e fomento do distrito industrial têm gerado reflexos positivos. “Tanto que os últimos dados do Caged apontam São Leopoldo na liderança de geração de empregos na região”, pontuou a nota. O fim das atividades é atribuída a dificuldades da economia do País e “desequilíbrio e da concorrência desigual tributária”. A prefeitura manifestou solidariedade “com os trabalhadores e trabalhadoras que serão impactados pelo fechamento”.